"Se a vida é subjectiva, o futebol é 100 vezes mais"

Pablo Aimar

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Mundial 2010-II

Tinha previsto escrever com mais regularidade sobre o Mundial, mas esse plano foi por água abaixo, portanto escrevo quando calhar.
A seleção portuguesa (note-se que não escrevi selecção) foi eliminada pela Espanha. Até aqui tudo normal. A Espanha é actualmente campeã europeia e metade dos seus jogadores formam parte do Barça, actualmente a melhor equipa do mundo.
A questão é que em futebol, mesmo não sendo favorito pode-se ganhar, ou pelo menos tentar. Queiroz não tentou ganhar o jogo, tinha o plano de não sofrer golos e rezar muito a Fátima (a nossa Sra. do Caravaggio já era) para que Cristiano Ronaldo ajudado pela Jabulani marcasse um golo. O plano estava a resultar, pelo menos na pare de não sofrer golos, que era para Queiroz a mais importante. Chegou o minuto 57 em que o treinador português fez uma substituição que juntamente com a feita pelo treinador espanhol, tornou o jogo num diálogo entre os espanhóis e o Eduardo, que fez várias grandes defesas. A saída de Hugo Almeida para entrar Danny, não mudou o esquema, mas pôs o Cristiano Ronaldo numa posição em que é de uma inutilidade atroz (curiosamente uma invenção de Scolari). Portugal deixou de ganhar bolas divididas no meio-campo espanhol e Llorente (que entrou por F.Torres) começou a ganhá-las todas no meio-campo tuga.
Pouco depois das substituições a Espanha marcou, num lance precedido de um fora-de-jogo, que em abono da verdade era impossível de ver. Os espanhóis começam a trocar a bola perto da área tuga, Ricardo Costa sai de posição sem necessidade deixando Villa sozinho e Simão não conseguiu dobrar a tempo. E o Villa não perdoa.
Em teoria havia ainda muito tempo para empatar o jogo (25 min,), mas oque aconteceu foi que a Espanha passou a ter ainda mais bola e a criar muito mais perigo, sem que o Carlos Queiroz mostrasse o minimo de coragem para tentar pressionar a Espanha através de uma alteração um pouco mais arriscada. Na minha opinião teria de tirar o brasileiro Pepe o pôr o brasilero Liedson (já que era o único avançado disponível, pois Queiroz pensou que 2 pontas-de-lança na convocatória chegavam). Deste modo recuaria Meireles para trinco, e jogaria em 4-1-3-2, com Danny e Simão nas alas e o Ronaldo a fazer companhia ao brasileiro. Ao mesmo tempo faria uma de duas coisas, ou tirava o R.Costa (o que é que este gajo andava a fazer no Mundial?) e punha o Miguel, ou tiraria o Tiago e punha o Deco (sinceramente nem me lembro se estava disponível ou não) para dar mais frescura ao meio campo. Queiroz não optou por nada disto. Tirou um trinco para pôr outro trinco e tirou um extremo e pôs um avançado (recuando Cristiano), ou seja não alterou absolutamente nada, parecia que estávamos a ganhar. O resultado foi que Portugal apenas cheirou a bola nos ultimos 25 minutos.
A 5 min. do fim, o árbitro expulsou R.Costa devido a uma excelente mergulho do Capdevilla, mas ninguém se preocupou muito com isto, porque com 10 ou com 11, a verdade é que não estávamos a jogar um corno e nem sequer rematávamos à baliza.
A imagem que passa, das declarações dos jogadores, é que há uma falta de confiança enorme nas decisões do Queiroz. Um canal espanhol esteve o jogo todo a filmar o C.Ronaldo e há uma altura em que se vê o capitão português a dizer "Carlos, assim não ganhamos". E tinha razão. Estava à vista de todos.
Não me lembro de ver Portugal jogar tão encolhido com ninguém, nos últimos 15 anos, e a arriscar tão pouco estando a perder. A geração de ouro podia não ter ganho títulos mas tinha ganho algo mais importante: mentalidade vencedora e eliminação do complexo de inferioridade. Carlos Queiroz, que curiosamente foi o "pai" dessa geração, está a voltar ao passado e a incutir uma mentalidade de "não perder" e e ressuscitar o complexo de inferioridade. É pena que o esteja a fazer e é pena que não se aperceba do que está a fazer.

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