"Se a vida é subjectiva, o futebol é 100 vezes mais"

Pablo Aimar

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Classe e amor à camisola I


Entre hoje e ontem despediram-se do Real Madrid dois históricos do clube. Raúl e Guti. O capitão estreou-se pelo Real Madrid há 16 anos, tem agora 33. Ou seja metade da sua vida só a sabe jogando nos "blancos".

É um caso de longevidade raro. Bateu praticamente todos os recordes de presenças e golos que havia para bater no clube e na selecção (está prestes a ser ultrapassado por Villa em golos). Mas mais do que os números, o que sempre me impressionou em Raúl, foi a sua regularidade num clube tão turbulento, cheio de intrigas e pressões como é o Real Madrid, sobretudo tendo um presidente tão mau como é Florentino Perez (que continua a pensar que para ganhar há que acumular estrelas de ataque, independentemente de elas poderem jogar todas juntas ou não.

Fez dupla com vários avançados, mas inclusivamente teve de recuar várias vezes, jogando de extremo esquerdo, tal era a quantidade de avançados de qualidade que frequentemente existiu na equipa espanhola. Alguns dos seus colegas de ataque ao longo dos anos: "Suker, Morientes, Ronaldo, Van Nistelroy e mais recentemente Higuaín e Cristiano Ronaldo". Raúl sempre soube estar e nunca se lhe viu (pelo menos publicamente) "cenas de ciumes", ou nenhuma palavra de reclamação quando deixou de ir à selecção, nem quando deixou de ser titular no Real Madrid. Antes pelo contrário sempre veio a público defender os treinadores.

Perceber porque Raúl conseguiu os números que conseguiu e a confiança de tantos treinadores é para algumas pessoas dificil. Não é especialmente rápido, não tem um remate potente, não é alto nem forte, é apenas razoável no jogo de cabeça, e não é exactamente um Messi no drible. No entanto também não é mau em nada. Em várias características é bom, sem ser excelente, mas o seu sucesso deve-se essencialmente a 2 factores: inteligência e persistência. Raul sabe sempre onde deve aparecer, sabe sempre o que fazer e não desiste quando as coisas correm mal. Só assim pôde fazer a carreira que fez.

Há uns largos anos (talvez uns 13/14) estava no Algarve a decidir que camisola ia comprar (daquelas da feira) se a do Raúl ou a do Figo. Escolhi a do Raul porque pensei que era provavel que o Raúl estivesse mais tempo no Real Madrid do que o Figo no Barcelona. Não me enganei. Não pensava era que a diferença iria ser de 10 anos. Isto é que foi um bom investimento, já que a única coisa que estava desactualizada era o patrocinio.

Raul vai para o Shalke 04, um clube sem grande história a nível europeu, mas que está na Champions League, e o "7" tem um recorde em vista, o de melhor marcador de sempre das competições europeias (na posse de Gerd Muller). Eu espero que consiga chegar a esse recorde, porque merece. Estar tanto tempo no top não é para todos, mais dificil sendo avançado.


P.S.Foi um crime Raul nao ter recebido a bola de ouro, que podia perfeitamente ter ganho no ano em que foi pichichi do campeonato espanhol e da Champions, em 2001.

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